minha prece ... meu querer... poema
pedi a Deus me fizesse
árvore de meu jardim
p'ra estender minhas raízes
tornar os outros felizes
neste amor que existe em mim...
ser abraçada pelo vento
beijar a noite em segredo
esperar pela madrugada
suada, bela , sem medo...
sem medo, bela, orvalhada...
pedi a Deus me fizesse
tão grande , tão grande assim
que sendo eu tão frondosa
meu coração fosse rosa
com aroma de alecrim...
ter braços longos abertos
como uma cruz num altar
para rezar minhas preces
choradas em meu olhar...
ter orvalho feito contas,
nos olhos que Deus me deu,
num verde de mar revolto
onde meu canto vem solto
e se solta do pranto meu...
tal como as ondas do mar...
meu coração alterado
tem sangue rubro de amar
os sonhos dum condenado...
tenta quebrar as algemas
e as grades duma prisão
onde os anjos guardam penas
soltas em cada oração...
Deus atendeu meu pedido
e fez-me filha do vento,
fez-me irmã do pensamento,
deu-me a Lua como amiga
a noite por confidente
e o Sol durante o dia
queimando meu sonho ardente...
deu-me seiva perfumada
num olhar meigo e profundo
mas não se compadeceu
fez-me igual a todo o mundo...
insistindo em minha prece
voltei a pedir a Deus
me fizesse uma andorinha
sem Primavera, nem Verão...
Deus escutou meus apelos
afagou os meus cabelos...
deu-me letras, deu-me voz,
deu-me ternura de amar
deu-me vida de poeta
que em minha alma secreta
é o mesmo que rezar...
mostrei a Deus minhas mãos,
que bailam como andorinhas
mendigam, como mendigam,
com fome, tão pobrezinhas...
Deus ouviu ... ficou olhando
meus versos feitos de amor,
sextilhas, quadras, sonetos,
poemas longos, discretos
que falam de pranto e dor...
mas a chorar disse a Deus
sincera neste meu crer...
se não puder versejar
vivendo por tanto amar
então prefiro morrer...
lasalete - 28-8-08 (coisas do fundo da alma)