súplica...poema
não deviam existir campas, nem flores ,nem despedidas,
nem rostos molhados , nem lenços acenando,
nem velas acesas que lembram mãos erguidas...
não deveriam existir almas penando, nem mortalhas,
nem vidas sobrando em braços já cansados,
nem lábios parados que lembram duras muralhas...
não deviam existir sonhos que terminam, doendo sem aviso
nem longas madrugadas azuis, nem noites frias,
nem rostos serenos de criança, sem sorriso...
não deviam existir olhos maus , celas no mundo,
vozes que magoam, quando falam de amor sem conhecer
a dor de amar e amortalhar a alma lá no fundo...
não deviam existir amarras, gritos, medos,
nem pensamentos que golpeiam por querer,
nem beijos de amor , perdidos nos rochedos...
não deviam existir rugas no rosto, nem dor de envelhecer,
ninguém devía sobrar na vida de ninguém,
nem medo de amar, todo o mundo a cada amanhecer...
porque não voltamos então de nossos sonhos mais refeitos
e arrebatando a beleza aos sons da madrugada
experimentamos gestos peregrinos, mais perfeitos...
porque não conseguimos parar o olhar de cada alma
no choque emocional de nosso secreto amanhecer
vivendo em harmonia, doce paz e eterna calma...
porque temos que passear no cais onde encostado,
se encontra temeroso nosso choro mais sincero,
dividido com as gaivotas que choram mesmo ao lado...
as pedras gastas do chão, dizem que estão
cansadas dos passos discretos das almas mais serenas
que gravam nomes de amor e dores do coração...
há longe um navio ancorado , sem nome ou rumo certo,
que tem asas de vento leste e sons de mar
e caminha ao nosso encontro e está mais perto...
há deuses que destinam a vida que se esgota em nossos dias
fazem molhos de gotas de suor, das lágrimas dos crentes,
mas não oferecem aos homens que choram as suas alegrias...
há novas flores nos campos que nunca morrerão
cujos aromas e cores as tornam mais formosas
quando brotam e se alimentam do nosso coração...
vestida a alma , dos dons de cada ser, ao ver-se amada,
discreta em seu viver , perfumada se deixa conduzir
à planície do querer viver loucamente tudo e nada...
lasalete... 28-8-08 ( coisas do fundo da alma)