marcas do coração ... ( poema)
ninguém disse adeus... ninguém se despediu,
apenas passos ligeiros, e firmes... quase certos
levavam para longe a chorar, braços abertos,
levavam para longe a chorar a solidão...
e uma a uma as lágrimas vão soltando o coração
molhando a areia dourada de forma tão real...
conforme as lágrimas caem, há flores no areal ,
que sem desejo sofrendo falam de pranto e dor
e o sol não se afasta não se ausenta é escaldante
tudo espreita, tudo afaga num abraço docemente
vestindo a areia de espuma ,com lágrimas de amor...
os passos denunciavam sem querer longos silêncios
que só Deus sabia entender e acarinhava...
dentro dessa alma aflita e perturbada
que corria pela praia amedrontada...
com ela corriam recordações já tão distantes
que esvoaçavam ao vento ondulantes
como plumas do pensamento incontrolado
como cavalos à solta lado a lado,
que sem freio ninguém pára, nem aguenta
indomáveis ,velozes, quase loucos
e alados subiam a um céu quase estrelado...
que denunciam as lágrimas ?...quem lê os passos da dor?...
nada... nada, nem ninguém apenas a dor profunda
da alma que não se acalma ,nem consegue respirar...
dorme em desejos sepultados onde fecunda,
amor e dor, denúncias de tumular emoção,
onde se julgam aqueles que ébrios ainda tem coração...
junto deles ninguém reza, ninguém coloca flores...
sobre os desejos ninguém fala, não existem orações
nem se podem profanar as nossas almas tão cansadas
nem se podem invocar os Deuses que estão surdos
aos rogos dolorosos de nossos corações...
se aos homens é proibido avançar dentro dum sonho,
onde se guarda então imaculada a emoção ?
se existe um solo negro e tão agreste que nos fere
onde partido e quase exangue cai cansado o coração...
quebrando as regras do amor ,quebro granito em pedaços
o meu pensamento corre veloz e cria espaços
depois de muito chorar, ajoelho e suplico...
e minhas mãos se estendem e bailam comovidas
e quando não podem amar são recolhidas
num sacrário onde oculto, o meu Deus,
sabendo o tamanho da dor de tanto amar,
me permite então dizer adeus...
os poemas fluem sem esforço, traduzem todas as dores
e então brincando infantilmente com a vida
pedem aos homens que baptizam seus amores...
e o amor de mão em mão , soa a desdém
se alargam assim os gestos que são de despedida,
que tristemente não completam mais ninguém...
não entendo então, mesmo que queira,
como as luas vão iluminar a noite fria...
pois se o amor adormeceu, já não existe
de modo algum se justificam os luares
nem se justifica que o calor do Sol inclemente,
seque os pingos de chuva sem querer
pois são eles as lágrimas de dor de toda a gente...
entre um sonho e outro assim, se engana a beatitude,
a denúncia de nossos sentimentos é sincera
como quem num altar coloca paramentos de virtude
onde celebra um ritual de amor e primavera...
onde anjos e demónios convivem sem emoção
sem vergonha de serem consagrados
na elegia da vida, entre graças e pecados
que Deus absolve por amor, em cada coração ...
as distâncias, são cadafalsos que matam o amor
o adeus a fogueira onde vão arder todos os sonhos
e o amor virginalmente em ascendência
sem mácula consagrado em sua essência,
num lago de paz translúcido e manso,
vai ao lugar que lhe é próprio... o coração de Deus...
pois só aí o Amor encontra por fim o seu descanso...
lasalete - 6 -09-08 ... (coisas do fundo da alma)