só Deus pode ouvir o meu grito...
não sei o que posso fazer mais para socorrer os que chegam às dezenas diariamente a pedir auxílio pela primeira vez...
não são os pobres habituais...
são mulheres abandonadas, porque os companheiros faliram nas suas expectativas e as deixaram com todos os encargos familiares... vêm com filhos nos braços , quase incrédulas da sua situação e não sabem bem como se movimentar...
jovens que quase desistiram de procurar emprego e que já não acreditam num futuro melhor...
pais desesperados pedindo para os filhos que neste momento nada têm que comer e não têm coragem para se dirigirem a uma instituição de caridade...
homens e mulheres em conjunto representando o desesperante desemprego que atingiu dolorosamente famílias completas a quem neste momento nada sobra para sobreviver...
idosos que outrora socorriam algum filho ou neto e que agora nada possuem de seu e com a sua magra reforma têm dificuldade em sobreviver...
não sei o que fazer... os programas de apoio que inventei e que coloquei em funcionamento são a única porta que encontro de saída para que não sintam vergonha... mas, não é de certeza absoluta a solução...
a vida de muitos seres humanos está a tomar proporções inimagináveis e não sabemos como os podemos conduzir sem ser com palavras de encorajamento...
durante o dia vou inventando algumas tarefas que os coloque dentro da instituição e nos espaços que temos espalhados pela cidade, para que se alimentem connosco e connosco possam conviver, injectando esperança em todos eles, motivando-os para um pensamento positivo...mas as contas vão chagando ... a luz... a água .... o gás ...etc...etc...
quem paga estas contas? ... O Coração da Cidade não suporta tantos encargos, pelo menos na totalidade , não tem capacidade para tal...
O Coração da Cidade não tem suporte financeiro para semelhante empreendimento... o certo é que os organismos estatais como a Segurança Social, também não segura ninguém e as entrevistas com as assistentes sociais demoram cerca de três a quatro meses a realizar...
frente a frente com uma senhora que vinha pedir auxílio, estarreci quando determinada e muito séria ela disse , que agora só lhe faltava roubar, mas que se tivesse que o fazer para dar de comer aos filhos ela o faria sem hesitar...
casos como estes são muito difíceis de equacionar pelos padrões normais de ajuda que damos, porque o desespero é tanto que não sabemos o que dizer...
não estou a ver como vamos dar a volta a este panorama social...
não vejo programas sociais adaptados aos quadros actuais de pobreza que são de gravidade excepcional ...
é urgente que os órgãos competentes, tomem com prioritário este problema...
temo graves consequências se efectivamente quem de direito continuar de costas voltadas para os que estão a engrossar o caudal dos mais carenciados...
só Deus pode ouvir o meu grito...
valem-me as muitas orações e os míseros tostões que diariamente recebo de esmolas...
mas estas até quando ?...
ajudem-nos por favor ...
lasalete