companheira oculta... (poema)
não inventes que sabes porque existo,
sem contudo olhares bem de frente para mim...
não inventes que estás a sentir porque resisto
porque o meu desejo é severo… e tem um fim...
não... não ... tu nada sabes de amor,
a respeito de mim?... que sabes tu?
nunca te vesti ou acordei, ou abracei...
nunca te apertei , nem te pus nu...
nunca te fiz chorar adormecendo
nunca te fiz chorar pelo meio dia,
nunca te fiz chorar de medo tão horrendo
nem tão pouco te beijei por ironia...
afastei-me porque tu não me aceitas-te
e havia outros que me queriam e entrei
instalei-me secreta em outros e olhas-te
sem saber de onde eu vinha e então fiquei...
pálida pela indiferença em cada olhar,
abismada pela crueldade do teu ser
eu fiquei em tua mente a namorar
o amor que dizes sentir sem dele perceber...
chamam-me muitos nomes... oh!... cruel humanidade
que da ignorância não dispõem mais que um esgar
e me suporta em silêncio e com maldade
sem perceber que eu acompanho quem nunca soube amar...
pensei que vinhas ajudar os que retinha
nos escombros do passado rude e lento
no barulho de seus gestos mal pensados
que gritam destruindo o pensamento...
meus fantasmas se debatem todo o dia
não dou nada de graça... tudo vendo,
também, não compro nada... arrebato...
me alimento de segredos que apenas eu entendo...
instalei-me?... é certo ... eu fiz o que é de lei...
nem mais , nem menos, apenas conferi
aquilo que na vida eu encontrei
nos abraços mais ímpios que senti...
vim como prostitua cobrar o que queria,
vendido que foi o amor por preço inferior
eu então cobrei mais alto o que devia
apenas na esperança de pagar o mesmo amor...
ninguém me aguarda, nem pressente e me confunde,
ninguém me quer, me esconde e acciona,
ninguém me compreende, nem ama, me abomina,
patogénica presença, que o mundo aprisiona...
mas, quando me entenderem no Todo que ilumina
e me curarem pelas leis que Ele colocou,
a mente que me oculta e me assassina,
irá sem querer viver p'ra onde eu vou…
me verá com outros olhos, que não os que suporta
e então sem choro recolhido e com furor
entenderá que eu posso entrar em qualquer porta
não porque eu quero… mas em nome do amor…
enquanto eu estiver em ti e tu em mim,
nos que te são queridos e amas ternamente,
não me chames de loucura , porque ocupo
apenas o lugar do amor que esteve ausente...
olha-me sem medo e abraça-me... bem forte,
oferece-me a Ele e o fardo cederá.
abraça-me outra vez, com calma até á morte
e a mente se liberta de mim e viverá...
eu vim como companheira, sem usura
eu sou retábulo difícil, necessário…
todos de me chamam loucamente de loucura,
mas eu… eu sou apenas " as contas dum rosário"...
lasalete...13 -6-09