braços longos e berços eternos...
inerente á função que desempenho junto da comunidade, um número elevado de pessoas recorrem ao meu ouvido para desabafar e solicitar assim o conselho adequado aos seus problemas...
entre os dramas pungentes de que vou tomando nota, um eleva-se neste momento, pelo numero crescente de casos que chegam como " um não sei quê de vergonha", mas com lágrimas e desespero á mistura...
ontem mesmo falando com alguém que me colocava o mesmo problema ... eu... quase fiquei sem resposta...
refiro-me ao problema dos pais que têm a seu cargo, os filhos já adultos, que agem como crianças, mesmo que tenham, 20,30 ou 50 anos...
quase sempre o desabafo vem acompanhado dum diagnóstico mais ou menos nos meandros da esquizofrenia, ou de depressão paranoica, ou até da moderna bipolar, que se espalhaou como o vento, e de outras patologias associadas que os pais dificilmente querem assumir...
são raros os progenitores que assumem a doença dos filhos e preferem referir que é questão de mau feitio ou que quem sabe " algum mal espiritual " que os filhos trazem consigo...
a explicação é muito difícil, e deveres preocupante, quando para atenuar a minha explicação o amor entra em litigio com as preocupações...
na maioria dos casos estes filhos ficam a cargo das mães , que ficam sozinhas com o problema e arrastam consigo os filhos doentes com uma coragem surpreendente...
as mazelas emocionais são detectáveis logo no inicio do diálogo, mas na maior parte dos relatos molhados de lágrimas vêm as agressões físicas e a falta de apoio institucional para quem se sente impotente perante semelhante pesadelo...
continuam amando os filhos, sem sombra de dúvida, mas fragilizadas as mães não têm resposta...
estes doentes entram em descompensação inúmeras vezes e quando podem ludibriam quem os ajuda recusando a medicação adequada...
em pleno surto, rompem as barreiras do aceitável e os pais são sovados e violentados em todos os seus ideais...
o amor não esmorece, mas o medo toma conta de todas as horas do dia...
as instituições que deveriam apoiar estes doentes não são em número suficiente e as poucas que estão ainda a funcionar, correm o risco de encerramento...
o acompanhamento destes doentes deveria estar mais activo e funcional, com regras legitimas que possibilitasse a estes pais a ajuda e orientação adequadas, tratando-os também da depressão declarada e das sequelas emocionais que já não conseguem disfarçar...
dizia há tempos uma mãe desesperada, que a impressão que tinha na vida é que estava a ser enterrada viva, parecendo até que a doença do filho estava a passar para ela, porque não tinha perante ele a calma de outros tempos...
num dos hospitais espíritas de S. Paulo - Brasil, este tipo de patologias são acompanhadas com muito sucesso com a ajuda de médiuns esclarecidos e que ministram aos doentes profundos impactos de fluido salutar o que permite observar a curtíssimo prazo a calma que eles necessitam para continuar a viver ...
no nosso país grande parte destes doentes dependem dos ais como se fossem crianças ocupando em casa um " berço eterno" ...
a sociedade economicista em que gravitamos, não está atenta a este tormento e não canaliza para este tipo de patologia a atenção necessária, não a tomando como urgente e carrega um fardo que a cada dia que passa se multiplica...
alguns destes doentes são portadores de uma sensibilidade extraordinária que não está a ser entendida por ninguém...
legislar no sentido de proteger é urgente...
a via da humanização é um caminho a trilhar, numa época em que o individualismo parece querer fazer carreira ...
é necessário proteger estes pais, para que eles com qualidade, possam proteger os filhos, em primeiro lugar deles próprios, e, depois, duma sociedade, que só porque não entende, os rejeita...
cumprir com amor a nossa missão enquanto pais, é muito importante e, no fim de contas o amor ainda continua a liderar a força de que somos portadores...
deixo aqui o meu abraço a esses pais, heróis de todos os tempos...
um bem haja por esses berços eternos que existem, em quartos anónimos rendilhados de lágrimas e aquecidos de esperança...
lasalete