UM DIA FOMOS ASSIM ...
um dia fomos assim...
ternos amorosos, sem medos que acrescentassem mais medos,
tão ternos e amorosos que era fácil acreditar que o mundo estava preparado para nos amar eternamente...
se nos dissessem que iríamos crescer, nós nem tão pouco compreendíamos o que nos estavam a fazer entender...
porque na nossa cabecinha, não cabia a ideia de um mundo cruel e infeliz, onde a maior parte dos seres humanos fazem de conta de que tudo está bem e onde de vez enquanto fazem de conta que amam e cantam canções que Parecem eternizar esse mesmo amor...
tão ternos e amorosos nós eramos,que mesmo a dormir apenas sonhavamos coisas de sonho, sem suspeitarmos que que os adultos sonhavam coisas de dor e de pranto e que por vezes tinham medo de adormecer, para não terem que sonhar os sonhos que ninguém quer...
mas o mundo não pediu licença, apenas cumpriu uma ordem universal de vida...
e nós crescemos, e fomos enfrentar o mundo dos homens que sonham sonhos que não querem sonhar...
o mundo dos homens que não sabem como dizer não, quando devem dizer sim...
o mundo dos homens que precisam de amar , mas que têm vergonha de o fazer...
o mundo dos homens que não se assumem, em qualquer aspecto da sua personalidade e que tentam disfarçar, teimosamente, permanecendo infelizes...
o mundo onde os homens dizem que têm pena dos mais pobres e onde inventam rácios para que a fome continue e eles assim possam enriquecer mais depressa...
o mundo dos homens que ensinam democracia, mas que governam calcando os mais desprotegidos, deixando apenas a imagem na memória de alguém que deixou de existir mas que não interessa...
o mundo dos homens que faz registos de morte, mais rápido do que os registos de vida...
o mundo dos homens que quer filhos, mas que se esquece deles quando eles crescem e se mutilam por dentro destruindo os sonhos que aprenderam a sonhar enquanto eram crianças...
o mundo dos homens que falam de inocência, em paralelo com a pedofilia, com a prostituição e o trabalho infantil...
o mundo que recorda as canções de embalar , mas que tece nuvens de ilusão onde ninguém quer permanecer, porque já não sabe cantar...
um dia todos os homens foram assim, onde ficou portanto a sua inocência e a sua ternura?
para onde caminham os pés que chutavam á bola?
para onde se estendem os braços que procuravam a mão dos amigos com verdade?
o que agarram as mãos que outrora colhiam flores?
onde pára o sorriso, que em tempos acompanham o canto dum passarinho?
onde estão os rostos que antigamente se lambuzavam de algodão doce?
quem se permitiu a apagar o perfume da alma com o cheiro fétido do oportunismo, do pessimismo e da escassez de carinho...
quem se atreveu a parar o canto da sua voz inocente e hoje diz impropérios que a vida registo chorando?...
onde pára a criança que havia dentro de nós?...
hoje não aguentamos o peso da vida, outrora o mundo cabia inteirinho na nossa mão...
descubram essa criança, brinquem e perfumem a alma, o mundo necessita de nós...
lasalete