a fome atravessa a ponte como há 50 anos atrás...
sobre esta ponte , numa noite gelada, eu fiz uma promessa, vai para 50 anos...
"amar a cidade, na pessoa da sua gente, dos mais desprotegidos, dos mais esquecidos..."
anos depois, ainda não consegui concretizar um sonho ( construir o maior refeitório, para que ninguém pudesse pensar que ficaria sem pão)...
a manhã despontou e eu atravessei a ponte rumo á cidade grande, como todos os outros...
quando a miséria atravessava a ponte, todos os homens eram iguais...
a sede de pãp, a fome dum sorriso, encaminhavanos a um encontro marcado ( os pregões do Mercado do Bolhão) ...
a promessa me aompanhou muito tampo e se esbateu com o decorrer dos anos...
voltou quando a vida me percebeu mais só e disponivel do que nunca ... 1996 ...
nunca, nem ninguém , bateu á porta d'O Coração da Cidade, que partisse de mãos vazias...
nunca tal aconteceu...e hoje no Coração da Cidade, já se consegue apoiar em alimentação, 700 pessoas diáriamente, com o maior número de horas possivel ( 10 horas consecutivas) , lá estão a funcionar os voluntários sem descanso, a doar alimentação confeccionada...
no mesmo horário, uma carrinha ou duas, recolhem nos espaços de alimentação e restauração da cidade, os alimentos que não são vendidos... e eles se esgotam nas nossas mesas...
sempre temos para distribuir ( UM COBERTOR, UMA SOPA QUENTE E UM SORRISO PERMANENTE...)
com profunda tristeza, muito embora os apelos constantes que faço, ainda não conseguimos o número de voluntários que necessitamos, porque as nossas actividades, são 3 vezes mais que há dois anos atráz...
o número de pessoas que necessitam de auxílio em todos os sectores, subiu mais de dez vezes e a posição que ocupavam na vida , não era a mesma que ocupam as pessoas sem abrigo...
a pobreza mudou o rosto e temos necessidade de muitos braços, de pessoas muito equilibradas, de muita coragem e acima de tudo muito serenas...
os ánimos estão muito exaltados... quem vem pedir ajuda está muito desmotivada e triste...com os nervos á flor da pele...
nunca em tempo algum o voluntariado fez tanto sentido...
é necessário muito amor ... sem a caridadezinha que costuma emoldurar o sentimento de quem ajuda, mas com uma mentalidade firme e decida...
é necessário amar a cidade e as pessoas que nela se acolhem para conseguir sobreviver...
venham até nós...
os nossos braços necessitam dum abraço...
lasalete