E VOLTAMOS A FALAR DE POBREZA…
a cruz de quem trabalha... e encontra pela frente a dor do desemprego... a procura constante... as portas fechadas
a sensação de derrota...
a rotulagem dos amigos e dos familiares ... o olhar dos vizinhos ... o dia a dia sem resposta...
o medo de que este estado se prolongue e até pareça verdade...
eu afinal sou um desempregado... mas ainda sou novo ... tenho só 42 anos... ainda sou novo para me reformar... mas dizem que já sou velho para me tomarem ao serviço... que hei-de fazer... o subsídio de desemprego está a terminar e não encontro solução...
tenho medo de um dia ter que mendigar ...
será que as pessoas sem abrigo começaram assim?
mas eu estudei... mas existem como eu outros que também estudaram e não encontram trabalho...
o que está a acontecer?
e se um dia eu fico sem casa?
nasci livre... não quero morrer escravo do medo de acordar com fome,
sem casa, sem remédio se estiver doente...
quero ser livre para sentir que liberdade é sinónimo de felicidade...
não quero ser indigente...
MAS AFINAL VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? :
- TENHO FOME DE MIM ...
dos dias em que saía para trabalhar...
das tardes quando voltava de trabalhar... do banho que me tirava o cansaço ...
tenho fome da minha mesa com pão...
tenho fome dos meus filhos com sapatilhas novas...
tenho fome do cabelo da minha mulher solto e arranjado...
tenho fome de sentir no bolso uns trocados para tomar um café...
tenho fome da cerveja de Domingo...
tenho fome de comprar o jornal como todos os outros...
tenho fome de ter dinheiro no bolso para ajudar os amigos...
tenho fome de sorrir...
tenho fome de acreditar que Deus ainda vela por mim...
tenho fome de acreditar que ser Português vale a pena...
tenho ânsias de um Abril diferente ... um Abril sem fome...
lasalete