alma rasgada... ( poema)
mudei as cores da minha alma fui mais fundo
encostei num ancoradouro onde a paz sofria para mim
voltei no tempo ganhei espaço fiz-me ao mundo
e sofrendo rasguei sem querer a alma até ao fim...
percorri os oceanos lodosos da indiferença
vi que outras almas morriam que nem eu
sofri, por segurar na mão a minha crença
e descobri que minha alma humana mais sofreu...
amparei nas mãos o coração da Terra ensanguentada
na esperança que me devolvesse a luz que me fugia
gélida a noite aconteceu, fez-se ensonada
e me forçou a sonhar e a regressar quando era dia...
o amor não se programa nem se aprende,
a amizade também é um belo e doce amanhecer
a dor de perder é forte, é mais dor se surpreende
e a vida pouco a pouco vai deixando acontecer...
mas as luas mudam de cor ...se afastam sem aviso
os sois deixam de aquecer ...e a vida ao se esgotar
trás até quem sofre o sabor amargo dum sorriso,
que se esgota deixando em nós o gosto de chorar...
já ninguém toca para mim mais melodias,
já ninguém faz para mim, versos de amor...
tenho apenas gravados os sons de outros dias
quando ainda jovem meus olhos eram flor...
porque não acompanha o corpo a nossa alma
e se afasta, deixando-a só, de forma inclemente,
avança pedindo espaço e então se acalma
e deixa em fogo a alma a arder constantemente...
há chamas que se apagam tão logo começaram
apagadas na indiferença dum desejo
centelhas de prazer que logo se esgotaram
na falta de um abraço ou de um beijo...
os corpos se contraem como ondas que se agitam
as almas se distraem e se encostam de cansaço
os sonhos são os braços que se elevam e que gritam
na esperança louca, pela procura de um abraço...
mas as noites estão nuas, sem fogo e sem lume
a sangrar a esperança se entrega amortalhada...
lá fora, já não ardem as fogueiras do ciúme
e a vida triste se debruça sobre a alma assim rasgada...
lasalete...( poemas de dor e pranto) ... 1-9-08