o jardim daquele dia ...
o jardim daquele dia estava diferente...
todo estava preparado para ali realizarmos o evento que tínhamos programado, mas nem tudo estaria tão bem ao nosso alcance, se de repente os meus olhos não se voltassem para um banco de jardim...
o meu olhar se demorou ,em dois homens que dividiam amigavelmente um parco repasto para continuarem a sua jornada de peregrinos da cidade...
apressei-me e serena mas confiadamente olhei para os olhos de ambos... os dois de repente se apressaram a limpar as mãos nas calças sujas, para estarem mais à altura de quem a eles se dirigia ...
saudei-os, pois que já os conhecia de serem frequentadores habituais do nosso refeitório...
eu não sabia que estava a fazer história e perguntei se eles seriam capazes de nos ajudar... lestos responderam que sim , terminaram rapidamente o seu almoço e juntaram-se satisfeitos ao grupo de voluntários que ali estavam para levantar uma vintena de tendas para a realização do certame...
assim, confiando uns nos outros o nosso problema estava solucionado... ficaram durante aqueles três dias como guardas do espaço a céu aberto no Jardim da Praça da República ...
a partir daí ficaram connosco para outros serviços e um deles jamais se apartou de mim...
ali , naquele local ,adoptei um filho... dos dois o que tinha nome de flor .
como em todas as histórias, os anos foram passando e tudo dá os seus frutos... deixou de ser sem abrigo, refinou os seus hábitos, namorou, casou e hoje é pai de uma linda menina... afinal a flor daquele jardim, naquele dia de sol estava à espera para nascer...
abençoado banco de jardim que guardou este ser humano, para que nós o pudéssemos encontrar.
é só olhar os jardins, tantos que por lá andam. à espera de um convite...
já colhi outros , sem resultado positivo, talvez este como estava no jardim tivesse mais luz... quem sabe... o importante é que hoje é um homem , honesto, intempestivo , mas muito trabalhador, confiante nas suas aptidões e esperto com vontade de singrar na vida...
todas as flores dão fruto é necessário saber tratá-las...
agradeço ao Senhor por aquele dia e sempre que seguro a sua menina nos braços me lembro desse banco de jardim e louvo por não me ter distraído com outros afazeres e seguido a minha intuição...
lasalete