é preciso abrir certas cabeças...
Ser pobre é especialmente difícil , mas deparar com pessoas pouco solidárias, para não dizer de pensamento quadrado, é deveras complicado.
O episódio que vou narrar passou-se, em pleno século XXI , ou seja esta semana ...
Como é habitual, os seres humanos que nada possuem de seu e a quem teimosamente se vão chamando de pessoas sem abrigo, vêm a sua vida dificultada, não só pela situação em que se encontram e que parece eternizar-se, mas acima de tudo, sentem que são excluídos da sociedade, por todos os que sendo também seres humanos, de humanidade nada possuem... são tão pobres de entendimento , que lamentavelmente alguns não parecem pertencer à classe dos animais racionais...
Chegou até nós, um filho da rua, que vem à instituição para tomar as suas refeições e a quem dispensamos atenção, também, no campo da sua higiene pessoal, dando-lhe banho e roupa decente, incentivando-o desse modo a apresentar-se bem perante todos os que o rodeiam e pouco a pouco ganhou hábitos de higiene, fazendo questão neste momento de andar sempre arranjadinho e muito limpo.
Como é normal, tomou o seu banho , mudou a roupa ... mas a responsável do dia, entendeu que estava na altura de cortar o cabelo...
Como a responsável não sabe de cabeleireiro , enviou o nosso amigo com um voluntário a um cabeleireiro de homem, com dinheiro na mão, para que lhe fosse feita a barba e o corte de cabelo e assim ficaria melhor ...
Lá foi o Valdemar todo satisfeito, de roupa nova e todo perfumado... mas... o problema, está na recusa de mais de quatro cabeleireiros, que se recusaram terminantemente a cortar o cabelo ao homem e só muito mais tarde um cabeleireiro mais consciencioso o aceitou como qualquer outro cliente...
O homem ía de banho tomado , bem cheiroso, limpinho e com o cabelo limpo, tinha dinheiro para pagar... mas não o aceitaram para cortar o cabelo...
Santa ignorância... como vamos mudar o mundo se a mentalidade dos que se acham mais que os outros não muda, nem a pagar...
São tão pobres as mentalidades que encontramos por aí, que até dão pena...
Será que um dia, os que se recusaram a cortar o cabelo a este homem , não vão precisar de ajuda... ou porque podem ficar na mesma situação, ou porque mais velhos, podem apresentar-se de forma a causarem repugnância a quem deles tenha que cuidar...
Cada vez mais, eu tenho em alta consideração, todos os que voluntariamente e sem nojo, apoiam,abraçando e beijando, aqueles que junto de nós, para além da refeição diária, encontram o carinho e a certeza de que não os tratamos como animais...
Tantas igrejas a abarrotar de pseudo cristãos e tenho a certeza que em alguns cabeleireiros a televisão até estava a transmitir as imagens de Fátima...
Ainda não conseguimos, mas o nosso projecto de cabeleireiro ainda continua de pé para privar de constrangimentos os que nada têm além da mão de Deus sobre seus ombros...
amar ainda parece ser uma utopia em 2007...
lasalete