O SILÊNCIO DOS INDIFERENTES...
acordei... ia lamentar o silêncio em meu redor...
o silêncio dos indiferentes, daquele que se alheia do bater do coração ...
ia fazer um poema e procurava uma imagem...
entre as mil imagens que procurava para definir o silêncio, ela saltou no meu ecrã...
ninguém melhor do que ela, para representar o silêncio dos indiferentes...
daqueles que deveriam estar atentos ao mundo, pois que nasceram com capacidade para diminuir a fome e não nasceram indigitados para sustentar a indiferença...
olhei as inúmeras rugas deste rosto e percebi o que foi o esforço indescritível desta mulher, pequena e frágil na sua estatura física , mas como foi grande e forte na sua estrutura moral e espiritual...
a lei dos sobreviventes , conheceu-a ela de cor...
o silêncio dos indiferentes, bebeu-o até à última gota...
tive a sensação, ainda que instantânea do que é sentir a indiferença quando um fiozinho de medo percorre o corpo...
o que é sentir o peso de cada gota de silêncio que cai aterradoramente sobre a nossa alma, separada do corpo, apenas e enquanto a dor nos trucida, mas o que é ficarmos por momentos na mão amorosa de Deus, enquanto o silêncio dos indiferentes pretende assustar-nos ...
o silêncio dos indiferentes, dói...
a dor da ausência, penetra fundo, rasgando por dentro os labirintos da alegria, desse jardim onde nós cultivamos as certezas que enfeitam o nosso dia...
neste silêncio matinal, apenas cortado pelo canto diferenciado dos pássaros habituais que visitam a madrugada, encontrei este rosto silenciado no corpo, mas vivo pela chama real da eternidade...
amiga... onde estiveres, fala de nós, enquanto lembras os corpos dos caídos, mártires do silêncio dos indiferentes, reveladores da pequenez da alma humana ...
a realidade do teu rosto, que já não passa indiferente na nossa perturbada visão do quotidiano, ficou na memória dos tempos, para lembrar aos homens na Terra, a vergonha dos campos de concentração que a fome inaugurou por aí...
os crematórios dos ideais humanos...
as correntes que amarram o pensamento construído com saber...
o gás asfixiante dos desumanas leis que nos regem...
as grades grosseiras das opiniões políticas impossíveis de transpor...
o arame farpado das politicas económicas que rasgam vidas constantemente...
a bota pesada das ditaduras, que marcham disfarçadas de democracias...
o que a desumanidade fez por aí, não terminará tão cedo, a não ser no dia, em que cansados, os homens na Terra entenderem a vida como o cântico final da sua existência...
enquanto estes túmulos faraónicos , quiserem enterrar aqueles que trabalham, na sua mortuária compreensão, enquanto os que são enterrados se deixarem enterrar, a fome continuará a fazer a diferença...
amiga... perto de Deus ... leva-lhe o meu recado...
" OS HOMENS NA TERRA ESTÃO CANSADOS "
obrigada amiga... porque ao tentar falar da dor do silêncio em meu redor... ouvi a tua voz...
e dentro de mim ficou este recado...
"não importa o silêncio de todos os outros,
o importante é que tu sejas a voz dos inocentes"
a voz do amor é mais forte ,que o silêncio dos indiferentes...
"mensagem recebida às 7,30 horas de 5/10/07 .. T C "
lasalete ...