Mas com mais ou menos conhecimento, a grande maioria das pessoas não sabe identifica-la, nem se sabe achar dentro dum quadro de solidão…
Solidão não é estar só… é estar sozinho, dentro da sua própria alma…
A solidão é uma loucura momentânea, que não nos permite andar pelos meandros da paz e da felicidade, onde se passeiam os demais…
E de tal forma se desenha essa loucura, que funcionamos como se fossemos trôpegos, quase paralíticos às vezes, incapazes de andar pelos próprios pés…tão certo o que eu digo, que a solidão por vezes nos paralisa…
Ficamos, quedos, firmes e hirtos…
Parece que as palavras não chegam sequer, para articularmos pensamentos…
Damos connosco a ensurdecer…
E o pensamento, se cruza com muitos silêncios difíceis de entender…
E aparece o medo de ficar só, ou a solidão já dentro do medo nos assusta, o que vai empurrar muita gente, para fazer as suas escolhas erradas…
Escolhas erradas, que depois não se podem apagar, como quem passa uma borracha num texto que se quer simplesmente destruir para ninguém ler…
Mas a solidão que mais fere, é a solidão acompanhada, por silêncios ósseos, suspiros, lentos tremores, risos ou sorrisos, vozes sussurradas, que denunciam a presença humana, mas fora do nosso labirinto emocional onde está esculpida a nossa solidão…
Hoje em dia, são inúmeros os casos de solidão, que se manifestam em pedidos contínuos de auxílio…de tal forma, que as lágrimas brotam, na vez das palavras…
Considero a solidão uma brutalidade, quando podíamos estar mais juntos do que nunca para podermos ultrapassar todas as crises do mundo, que se veste de egoísmo e se passeia disfarçadamente de cristão bem-aventurado…
Resolver-se-iam muitos suicídios… porque o suicídio não passa duma crise violentíssima de solidão, que ninguém detectou a tempo…
Estejamos mais atentos a quem nos rodeiam para evitarmos a solidão suicida…
EDUCAÇÃO CIVICA , não passa apenas por não deitar-mos papeis ao chão...por sermos atentamente ecológicos... há ainda um longo caminho a percorrer na direção de todos os outros.. a maioria dos cidadãos, pensa, erradamente, que a cidade está por conta do Presidente da Câmara, e de todo e elenco de executivos, que laboram no domínio autárquico...engano nosso... todos somos responsáveis por todos...... devemos por isso estar com mais atenção, a tudo o que nos rodeia... observa: se não podes ajudar, vê quem pode... informa-te, de quem na realidade ajuda...onde se ajuda e que tipo de ajuda prestam as instituições da cidade... e quando passares na rua, informa aqueles que passam visivelmente mais desfavorecidos...e faz o teu encaminhamento... anota os números de emergência social... isso também vai obrigar, a que as instituições, comecem a cuidar das suas tarefas com mais e maior cuidado... são os cidadãos que pela sua insistência, obrigam os organismos a organizarem-se melhor... faz a tua parte... não deixes ninguém à deriva ... os humanos menos favorecidos não são esculturas de pedra dispersas na paisagem... eles precisam da atenção de todos nós...
EXECUTORES DO DESTINO ou facilitadores do karma... sempre que passas por alguém com fome, com frio ou com dor... sempre que alguém cruza a tua vida, em situação de rotura emocional... de cada vez que diante de ti aparecer alguém, precisando de ajuda, tu nem imaginas o que a vida te está a enviar... se não socorres, tu és o responsável pelo prolongamento da dor daquele ser...... apenas porque decidiste que ela se iria prolongar... aquele momento era apenas teu... estás diante de uma prova e não a venceste... por isso pensemos... as dores dos outros podem ser as nossas dores... está na hora de cada um de nós, refletir e começar uma etapa de amadurecimento espiritual... a religiosidade e a espiritualidade são coisas diferentes... as religiões não são responsáveis por ti, mas tu és responsável pela tua espiritualidade... cada um de nós, mesmo que não queira, está implicado na execução das dores dos outros...... ainda há tanto para entender, na construção humana...
creio, que nem todas as pessoas compreenderam o que aconteceu na alma de quem, de forma brutal, se viu de um momento para o outro proibida de viver...
e obrigada a vestir-se às riscas…
não sei se alguma vez, vamos conseguir classificar este acto hediondo...
porque, nem a raça, nem a religião, nem o DNA de alguém, justifica semelhante atrocidade...
resta-me apenas pensar que durante esse tempo, o mundo ficou nas mãos de seres perfeitamente anormais, espíritos perturbados e perturbadores, que tinham com as trevas um pacto infernal...
mesmo como reencarnacionista, me custa a aceitar que fossem exterminados milhões de pessoas e continuadamente, sem que para tanto existisse um grupo de seres sobre a Terra que parassem esse holocausto...
o mesmo pergunto hoje, como é possível, que estejamos a ver morrer milhões de pessoas à fome, num extermínio lento, dolorosíssimo e não façamos nada, camuflando esses horrores com cenas agradáveis, momentos aprazíveis e parangonas jornalísticas que parecem orquestradas exactamente para que não se pense a sério, nos horrores, que hoje em dia de forma mais elaborada, se cometem por aí...
se há 70 anos atrás as notícias custavam a chegar, hoje estamos assistindo à morte em directo e nada fazemos…
medimos o tempo da morte, o som da dor…
hoje traçamos as riscas da vida de forma mais programada, mas disfarçamos…
uns vão rezar, outros viram o rosto…
são muito poucos os que dão as mãos para libertar…
só quando do plano terreno, forem afastados, os ditadores, os bizarros governantes que existem por aí, os déspotas da história, que grava a ferro e fogo os sentimentos humanos, aí sim, talvez de verdade, mudemos a cor das riscas da vida…
a vida a preto e branco, dói muito…
se me perguntassem o que queria neste momento, eu respondo…
TER PERMANECI COM ELES ATÉ AO FIM…
Peço perdão, por não viver nesse tempo…cheguei já no fim da guerra…
As ruas enchem-se de gente a correr, com listas de compras que não tem fim…
E o ar é intoxicante de milhares de pessoas que se emocionam à toa, porque não podem ter aquilo que imaginaram…
As estradas repletas de carros, levam ao volante um olhar vazio, cansado, atónito e até irritadiço…
E as casas?... as casas sabem e cheiram a canela, com aromas de limão à mistura e caramelo esquecido num lume que demora para apagar…
As luzes tentam emprestar ao ambiente um pouco de paz e até de serenidade…
Tentam aquecer os olhos, já que a alma, por vezes está tão fria, que nem parece querer aquecer-se, com os brilhos de Natal…
Mas esquecida por completo, num canto bem escondido da mente, a mensagem de Natal permanece, ela está lá, mas parece adormecer os sentidos…
O menino nas palhinhas está inerte, não diz nada…
Tudo parou no tempo, de tão trivial…
E eu continuo a perguntar: - e a mensagem de Natal ?… não aqueceu pelo menos o coração ?…
Lamentamos os que nas ruas estão com frio, mas passados os primeiros minutos do quente agasalho dum lar, tudo se esquece e a mensagem continua esquecida, ausente , muito ausente da lembrança dos homens de boa vontade…
Hossana nas alturas … e paz na Terra aos homens de boa vontade…
Até os sinos teimam em tocar o mesmo som …
Todos os natais são semelhantes…
Mas a nossa alma acentua diferenças emersas na banalidade da festa, da celebridade do momento…
já é impossivel sair do Coração da Cidade, antes das 21 horas...
e já não é de admirar que depois dessa hora , os voluntários de piquete, sejam chamados para recolher alimentos, das inúmeras festas e eventos que acontecem pela cidade e arredores...
ontem , graças a Deus e há boa vontade de quem nos contactou, conseguimos distribuir centenas de refeições que embalamos com carinho e com crescente apresentação...
eram 8,30 horas e ainda distribuímos a alimentação que nos tinha sido oferecida...
sempre repito: - para além das portas da instituição niguém imagina a azafama que vai lá dentro...
neste momento estamos com um movimento enorme, com trabalho acrescentado, porque temos que cuidar de mais de 2 toneladas de alimentos...
estamos com grande capacidade de ajuda , muito semelhante a uma fase de há uns anos atrás quando tinhamos cerca de mil utentes por dia...
O Coração da Cidade continua a receber ajuda da sociedade civil e pede que não faltem...
nós somos a ponte entre as margens...
bem hajam os que se lembram de quem nada possui, para sobreviver com dignidade...
ONTEM PERCEBI, NOS OLHOS DE TRÊS CRIANÇAS, QUE É MUITO FÁCIL CRIAR O MUNDO DA FANTASIA...
percebi que distribuir bolachinhas com hora marcada pode ser didático e ao mesmo tempo divertido...
mas percebi nos olhos, na força, no sorriso, daquela mãe que toda a tarde trabalhou comigo como voluntária, que a dureza da vida, pode servir sorrisos à mistura, somente porque ela se preocupa com o amor...
tão jovem aquela mulher... asseada, sorridente e sempre pronta a colaborar...
e ontem mais uma vez essa mulher valente trabalhou no Coração da Cidade ...
já pela tardinha, o companheiro, com os três filhotinhos a vieram buscar...
estavamos ainda a separar alimentos , que colocavamos sobre a mesa de escolha alimentar...
as crianças chegaram e a mãe as mostrou com uma vontade e uma satisfação que nos enchia o peito de certezas de amor...
o mais novito dos três rapazes, pediu um pacote de bolachas e então, num jeito de brincadeira, fomos distribuindo por eles, as bolachinhas que estavam na mesa, mas com a indicação da que só podiam ser comidas a determinadas horas...
eles aceitaram o jogo mas pouco crentes, nas normas que lhes indicavamos ...
e com o maior dos sorrisos, o mais pequenino lá ia distribuindo as bolachas que os irmãos mais velhos guardavam com a mesma indicação...
e no seu jeitinho infantil, percebendo que tão cedo não podia comer as bolachinhas,poruqe o horário era para bem tarde, só depois do jantar, ele pergunta: - e para esta hora não há nenhuma?...
todos ficamos a rir e então lá encontramos uns pacotinhos diferentes e eu disse:- bem, para o horário das 19,30h tenho estas...
ele rapidamente chama os irmãos e diz, vem aqui há bolachas para este hora...
e lá ficaram com as bolachinhas de chocolate...
agora quero ver quem vai jantar... mas pelo menos as bolachinhas já la cantavam...
o mundo sem as crianças, não tinha beleza nenhuma... louvado seja Deus ... é assim O Coração da Cidade tem destas coisas...
mas a organização dos adultos, não me priva de chorar...eles matam a esperança...
eu até posso vir da escola a cantar, mas em casa já ninguém consegue cantar e já nem choram escondido da gente...
os adultos, olham para nós crianças, como o futuro, mas no entanto tudo fazem para o destruir, criando no presente, imagens que com muita dificuldade passarão da minha memória...
só gostava de saber ...: -quem fez tão mal aos adultos de hoje, para eles não saberem amar as crianças ?...
o amor não inclui brinquedos... nós só queremos carinho... queremos brincar e sorrir... queremos alimento, roupa quentinha, uma casa para morar e paz para podermos adormecer com conforto...
ninguém pode evitar de ser criança, mas muita gente podia evitar que muitos de nós fossemos tão tristes e tão mal tratados...
melhor que o dia mundial da criança, seria o dia mundial do adulto ...
as lágrimas dos mais pequenos, são os espelhos quebrados da esperança...
por isso hoje, eu faço um desejo ...QUE O MUNDO TENHA A COR DA ESPERANÇA...