no labirinto da pobreza ...
existe a pobreza que todos observamos, na rua, nos trajes, nos rostos, nas notícias...
enfim, pobreza… qual companheira inevitável que nos entra pelos olhos dentro...
hoje em dia, é mais difícil dizer quem é pobre e mais difícil ainda detectar quem está efectivamente a mentir e vem dizer que nada tem, tendo tudo...
de uma forma ou de outra, sempre aparecem uns quantos, que com algum tacto lá vamos detectando e assim avançamos no campo das emoções educativas...
neste novo ano social, que se iniciou no Coração da Cidade no dia 1 de Setembro, a pobreza tem um espaço privilegiado, dentro de um novo horário, com 10 horas de atendimento contínuo de apoio social emergente, e tem acima de tudo uma cordialidade por parte dos voluntários, que eu mesma tenho vigiado, para que possamos levar enfrente o nosso grande projecto de solidariedade...PORTA ABERTA…SOPA QUENTE…CARINHO PERMANENTE…
em menos de três dias, o número de utentes no refeitório subiu na razão dos 100 utentes...
estamos agora com cerca de 500 utentes para fazerem a sua refeição e alguns estão a fazer duas refeições… mas, o que nos surpreendeu também, foi o número assustador de caras novas que vêm pedir ajuda...
alterando substancialmente as salas, colocamos no primeiro andar a sala de apoio emergente e diagnose social, quer para as famílias carenciadas, quer para as pessoas sem abrigo… e durante todo o dia as escadas da instituição em direcção a esta sala, se oferecem aos passos vacilantes e temerosos de quem pela primeira vez vai pedir auxílio...
no mesmo espaço vai passar também a funcionar a nossa farmácia social…
num singular desafio, a vergonha cedeu á pressão das necessidades mais básicas…
rostos de olhos colados ao chão, se vão abrindo e erguendo o olhar, que termina por ganhar confiança, abrindo a sua história de vida, que vai sendo desfiada, como quem desdobra páginas de um livro proibido de ler...
com lágrimas á mistura e tremendo pelo inusitado da situação, homens e mulheres abrem o coração e entregam-no á novidade de ficar durante algum tempo, dependente de uma instituição...
mas, de forma mais sincera e humana possível, nós vamos desmistificando a situação e mostramos que não é bem assim… sempre se podem apoiar mais uma vez no seu trabalho, podem doar o seu tempo para ajudar os outros e têm á sua disposição apoios sociais no campo da alimentação, do vestuário e calçado e de bens para o lar, para que possam seguir em frente, rumo a um futuro mais de acordo com a vida que em tempos lhes era propícia…
dadas as primeiras explicações, as expectativas mudam e os interesses também...
o importante é colocar um novo sorriso num rosto molhado pelo desespero...
todavia, um grave problema me preocupa…
com mais frequência, estamos a receber casais jovens, que foram obrigados a deixar o seu lar e estão como eles dizem ( por favor ), na casa de familiares que os acolheram, deixando em aberto que tudo é temporário...
estes casais, têm crianças a cargo, que se percebe serem tristes, que não estão alheias á situação, ao desmoronar do seu lar, da casa onde foram criados , do seu espaço… e que de repente, se vêm numa situação muito complicada, (terem que fazer a sua refeição numa instituição )...
nem todos os familiares estão para deixar tudo na mão dos que de repente lhes entram porta adentro... deixam que durmam, mas a grande maioria não partilha as refeições...
com todos os cortes na saúde, nas ajudas sociais, estes novos lares estão aí pela cidade do Porto e já vêm de longe para pedir ajuda...
a nossa grande preocupação é que neste momento tudo está desorganizado e as técnicas sociais não sabem como contornar a situação, tal a escassez de verbas...
a maior parte dos casais com crianças, ainda em idade escolar, enfrentam um outro problema, como vão adquirir material escolar? ... e os livros que são tão caros?...
é necessário ver até que ponto estamos a sangrar, quem já está agonizante...
este dilúvio social, só vai conhecer um dia a revolta, por muita esperança que nós tentamos transmitir, ainda não conseguimos estancar a raiva que percebemos na alma de tanta gente...
neste momento, nós, Coração da Cidade, estamos a fazer o mais que podemos...
pedimos por isso mesmo, que os que nos estão a ler, se registem como voluntários, que quem ler estas linhas não as ignore e se referencie como colaborador, angariando produtos de limpeza, de higiene pessoal, géneros alimentares e que ajudem da forma que puderem...
O Coração da Cidade está sempre ao dispor de toda a gente de boa vontade...
entrem em contacto connosco e venham ajudar a servir quem vem pedir ajuda...
nós estamos com 10 horas seguidas de distribuição e precisamos de mais braços…
quando largar o seu trabalho ás cinco ou ás seis horas da tarde ainda pode vir ajudar…
há muito trabalho para preparar para o dia seguinte…
não se prendam pelo vestir de alguns utentes apenas porque vêm limpos , apresentam-se bem asseados… as aparências iludem, os mais pobres na actualidade já não têm o aspecto do ( homem do saco)... são seres como toda a gente, que ainda há bem pouco tem tinham o seu emprego e faziam a sua vida de forma normal...
a maior parte nunca imaginou que um dia iria a uma instituição pedir um prato de sopa quente…
venham ajudar-nos, mobilizem o vosso potencial, façam-se amigos do Coração e ofereçam ajuda financeira...
O Coração da Cidade está a passar por um período de grandes mudanças... venha até nós...
um grande abraço
lasalete