Entre ideias e ideais, há uma diferença muito grande…mas as ideias não brotam se não estipularmos e estimularmos os nossos ideais…
Sempre me habituei a traçar planos e a questionar os meus ideais, e com o tempo fui criando o hábito de acompanhar atentamente e de forma mais ou menos programada, quem convive mais perto de mim…
Assim, vou de tempos a tempos, lançando para o ar a pergunta ( quais são os teus ideais ? ) … mas apercebi-me de que, quem está afastado da vida voluntária e nada faz pelo mundo que nos rodeia, parece não ter ideais…
Fui percebendo que as pessoas que se dedicam aos outros, sem nada querer em troca, idealizam o futuro de forma mais animada, mais positiva…fazem planos, e se os planos não acontecem como previam, dão a volta por cima com muito mais facilidade…
Entendi então que essas pessoas, amam com mais amplitude, o que de alguma forma as favorece, porque são mais alegres, e essa alegria transborda, seca as lágrimas rapidamente e não entram em depressão com tanta facilidade…
Percebo que amar com amplitude, não permite que caminhemos de olhos postos no chão, mas nos faz mais disponíveis, de tal sorte, que por vezes parecemos estar no meio da guerra, mas o tempo passa tão rápido, que não ouvimos o disparo de quem quer guerrear…
Amar com amplitude, é ser voluntário na vida, independentemente do cenário que se apresenta perante nós…
Tenho vivido momentos de paz inesperados, e tenho percebido que as pessoas que aparecem sem paz, são pessoas que não se movem, mas vivem em círculos, vincadamente pessoais, e por isso mesmo se desgastam e já não sabem como caminhar…
Os seus ideias deixaram de existir vai para muito tempo, e por isso mesmo perderam o hábito de criar ideias novas e conviver para elas é um sacrifício…quase sempre vivem tolhidas de medo e já têm medo de ter medo…vestem-se de uma ansiedade que não tem tamanho… deixaram de acreditar até nos amigos…
Tenho percebido que os seres humanos sem ideais, tem o corpo obedecendo ao calendário, mas fica-me a ideia de que o seu interior envelheceu de forma acelerada e sem pedir licença…
Amar com amplitude, é de facto a forma mais inteligente de vida, porque , se é dando que recebemos, então a máxima está dando mesmo certo, nós estamos mesmo recebendo em troca a energia de que dispomos…
O Coração da Cidade, vai caminhando no tempo, com um objectivo único: o de dignificar os estados de pobreza, sejam eles, materiais ou morais …
Para que pudéssemos avançar em 2016 com a certeza de que estamos a fazer o melhor que podemos e devemos, o ano social que se inicia a 1 de Setembro como habitualmente , introduz alterações que são de grande benefício a quem está inscrito nos nossos programas sociais…
Apoiar as famílias que se encontram momentaneamente com dificuldades, é para nós fundamental, mas sempre exigimos que quem pede ajuda , também ajude com a sua colaboração…
A partir deste ano e com o novo programa 3B – o Bem o Bom e o Belo, todo o cidadão que receber ajuda no Coração da Cidade tem que colaborar com a comunidade… este programa visa:
CONSTRUIR CONSCIÊNCIAS E ANULAR DEPENDÊNCIAS…
A inércia e o ócio não fazem parte da nossa formação social…
Por isso mesmo precisamos da ajuda de todos os interessados num mundo melhor…a dignificação da pobreza passa por ajudar a viver com interesse pela vida de forma educada ( BEM) , saudável ( BOM) e inteligente que é o ( BELO)…
há quem lhes chame filhos de um Deus menor... eu prefiro chamar-lhes os filhos da outra margem...
andam muito e por onde calha, vivem das sobras que a humanidade lança fora com desdém, têm como tecto a lua, o luar quando acontece empresta nuances de paz... sobra-lhes em medo o que lhes falta em carinho, ninguém os quer ver por perto, todos os conhecem, mas não são parentes de ninguém , são portugueses sem direito ao serviço nacional de saúde...
trazem apenas consigo tudo quanto possuem neste mundo ( nada mais)... sorriem com dificuldade e quase todos apresentam problemas emocionais muito graves, psicopatologias medalhando o circuito mental que lhes permite viver ao relento com a facilidade com que os outros habitam as suas casas ... mas , quando chega a noite, a dor aperta e o seu olhar procura dolorosamente o espaço mais seguro para adormecer.
amam sim ,com uma necessidade visceral ,na vã tentativa de voltarem ao colo da mãe que na infância lhes prometia tudo ,apenas com o olhar...
mas fazem amor ao vento... assustando as paisagens citadinas sem gemer e com medo... e os filhos do luar acontecem... alguns andam por aí, pernoitando de vez em quando em pensões duvidosas que rapidamente não se podem pagar, para que ninguém lhes tire os pedaços do seu coração...
todos os ignoram, já que as leis não chegam até para os ( normais)...
as suas emoções são pagas com escárnio e maldizer, mas quando falam inventam vidas , adoptam roupagens que gostariam de ostentar, em terras que nunca conheceram, fugindo assim da curiosidade a que ninguém tem direito, já que no seu entender ninguém os ama...
livres como pássaros emigrantes, vivem da esperança que os deuses distribuíram aos homens por eles amados, mas gozam de uma liberdade que mal se entendem...
não querem morrer e insistem em permanecer de pé, mostrando aos outros como eles amam mal... são os pedestais da desumanização mostrando vivamente que tudo está por fazer...
têm direito a comer na rua, no trato quase cristão de gente de bem... muito poucos ousariam franquear-lhes a porta...
são eles as pessoas sem abrigo na alma da gente... os filhos da lua, aqueles que se cobrem com telhas de lã... representando a dantesca desordem dum país europeu...
mas o nosso mundo indigente está a mudar... os factores se invertem e hoje é possível perceber com dolorosa agonia que os castelos do passado são as ruínas do presente...
nesta divina comédia, os novos pobres estão a surgir e se não amparar-mos o processo com olhos de ver, vamos percebê-los na cidade mostrando dolorosamente o lado infecto das resoluções por tomar, das leis sem serventia, da serpente burocrata e do domínio dos que se servem da sua indigência...
aprofundar a dor das pessoas sem abrigo é abrir fendas na nossa alma... porque eles ficam entre a Terra e o Céu impedindo a nossa passagem...
coragem para mudar ... sem subornos celestiais... com interesses de paz...
a experiência na Terra mostra que ninguém tentou de verdade e que aqueles que o tentaram foram exterminados...
o amor assusta os ratos da política e a polis adere frequentemente à imobilidade traduzindo apenas páginas de interesse pessoal ...
mas...
diáriamente se pronuncia a máxima que Ele ensinou ... AMA AO PRÓXIMO COMO A TI MESMO...