( dedico este poema ... porque nada mais posso fazer... à luta dos professores... a esses heróis, a quem devo a minha educação... pela ajuda que me prestaram, num tempo em que não se respirava liberdade, mas onde se respeitavam as nossas raízes)...
as ruas continuarão a suar de gente disposta a passear nelas, mas não a viver, a sorrir e a amar...
os rostos continuarão a passar uns pelos outros, mas não vão notar as alterações ... os sulcos vincados, vinculados às lágrimas soltas, sem aviso, incontidas num brutal e enorme pantanal de dor...
os sonhos vão misturar-se e serão bem mais frágeis que as realidades que a própria dor constrói...
por entre a multidão, vão desfilar os desgostos que ninguém vai descobrir, nem consegue travar...
na multidão apressada o vai e vem das saudades escondidas vai acontecer...
ninguém estranharia se alguém sussurrasse ...TENHO FRIO...
ninguém se espantaria se enrolado em seus próprios braços alguém chorasse murmurando ...ESTOU SÓ ...
SENHOR ... e TU ?... caminhas entre a multidão? ...
quantos vão desejar encontrar trabalho e não vão conseguir... alguns vão desistir...
não permitas Senhor... trá-los ao Coração... aqui sempre há de comer e um ombro onde se possa chorar sem que ninguém veja... mas sobretudo, um sorriso que alimenta de esperança quem para aqui se encaminha...
não permitas que ninguém desista ...
o Inverno da esperança que se exprime em desistência, transforma a nossa alma como galhos secos no chão, que ninguém levanta , que todos pisam e que frágeis, quebram ao menor impacto...
no palco da vida estão distribuídos papeis tão difíceis de protagonizar...
sabes Mestre, eu gostava de ter um colo gigante, onde pudesse embalar todos os que estão cansados de caminhar...
no seio do luxo e da prosperidade material, figuram aqueles que se desvinculam da vida, passando à margem de quem sobrevive miseravelmente ...
não dá para abanar esses corações empedernidos ? ...
apesar da Fé que existe em minha alma, não consigo evitar de perguntar todos os dias ... ATÉ QUANDO ?...
apregoa-se, mentindo, que a escravatura acabou...
porque mentem os homens, se o mundo deixa passear por aí os escravos, mal pagos , desnutridos, doentes, sem direito a dizer... n ã o ooooooooo ...
trocaram os troncos e os açoites, pelas máquinas e pelos impostos...
as senzalas já não existem, mas foram inventadas nas cidades os bairros sociais, a invigilância e a maldade proliferou e indefesas as escravas continuam a ser as mulheres dos senhores que tudo querem dominar...
as crianças são vendidas à indiferença e os jovens olham o futuro como um kilombo que alcançado lhes pode garantir a liberdade... onde está?... quem sabe o caminho ?... são tantos os que o querem alcançar...
a semana vai acontecer... neste momento na TV os crimes violentos são motivo de debate...
numa época de tanta descoberta científica o homem esqueceu-se de inventar a fórmula para a paz...
ajuda-nos Senhor....
ao escrever estas poucas linhas senti de repente saudades de meus amigos, das caras conhecidas que me habituei a descobrir todos os dias nas palestras semanais que vou proferindo...
mas não consigo abafar o grito, que hoje, de forma estranha, interrompeu a meditação do grupo que eu dirigia... quando repentinamente, um jovem adentrou a casa espírita e disse ... TENHO FRIO... TENHO FRIO...
era um pobre sem abrigo... tem apenas vinte anos ... é um cidadão português sem direito a morar em lado algum, mas preso à vida com salvo conduto, obrigado a viver...
um dia foi o menino de alguém...
quem se atreve a chorar por ele...
neste espaço de cantaria chamado cidade ... acudindo ao grito, uns braços se estenderam... um voluntário do Coração da Cidade ... porque este coração não pode fechar... aqui a dor faz os dias todos iguais... e as lágrimas não têm hora para cair... e uma dor mais uma dor faz uma lágrima ...
Foi assim que uma solicitadora encontrou um homem " português" , a quem tudo havia sido penhorado e que ao entrar para executar a penhora a senhora sentiu-se mal perante tanta dor...
Lembrou-se de pedir ajuda e telefonou de manhã para O Coração da Cidade a pedir apoio e contou a história...
Este homem perdeu a mãe, está só... tem mais ou menos 40 anos e sempre trabalhou, a firma fechou e ficou a receber o fundo de desemprego, mas não sabe explicar como é que esse mesmo subsídio foi retirado e então não sabendo como viver refugiou-se em casa, deprimido e só, simplesmente se retirou de tudo e de todos...
E senhora pedia comovidamente protecção...
Eu sei que vocês são o coração da cidade............. somos sim, respondi e vamos ajudar...
- mas vão com cuidado, porque os vizinhos não sabem que ele se encontra nesta situação e ele está muito envergonhado...
Iniciar o dia com pedidos destes é muito doloroso, olhando à situação de quem precisa... mas é gratificante, olhando à posição de quem pede apoio...
Numa época em que tudo parece não corresponder ao mundo ideal que todos desejamos, uma senhora solicitadora ... muito solicita... deixa de lado a sua posição na esfera de competências que lhe estão atribuídas e assume o maior dos estatutos o de ser humana e solidária ...
Quero deixar aqui os meus parabéns para esta grande senhora, da qual não sei o nome, mas que me sensibilizou muito.
Meu País ... meu País... que deixas dentro de portas teus filhos de olhar infeliz....
Permitam-me repetir ... lembrar o poeta, numa altura em que se fala dos grandes portugueses... que eu ainda não percebi quem são afinal? ...
percebendo que estamos à beira mar plantados ... parece que se justifica dizer...
Ó mar salgado... quanto do teu sal... são lágrimas de Portugal...
Palavras para quê ... é um quadro português ... um quotidiano a que nos vamos habituando e que tarda em ser dissolvido...
Restanos apenas a esparança de dias melhores... até lá O Coração da Cidade tem que estar atento e ir resolvendo os casos que lhe são entregue...
secar as lágrimas e seguir em frente...
se há alguém que tem que esconder o rosto não é se certeza este homem ...
partiu para a pátria espiritual uma voluntária chamada Maria...
fomos acompanhá-la até ao último minuto e dizer-lhe um até breve ...
transcrevo neste espaço a nossa homenagem a ela que sempre nos rodeou no nosso trabalho diário de apoio aos mais desfavorecidos...
sofreu com uma doença gravíssima " paramiloidose " e com dores bem fortes apoiada numa canadiana comparecia ao voluntariado sorrindo ...
na hora da despedida falamos assim para a Maria...
E agora Maria…
- Como vai ser a vida sem ti… ?
- A vida continua…
- Não Maria…não é bem assim… todos somos diferentes dando a impressão que todos somos iguais…
Por mais que pretendas que todos sintam assim… não poderá ser …
Pois que nem todos entendemos a vida do mesmo modo…
Nem todos gostamos de flores do campo…
Nem todos gostamos de poesia…
Nem todos gostam de fado.,..
Nem todos gostam de folclore…
Nem todos gostam de magia…
Não Maria, nem todos suportam a dor do jeito que suportavas…
Nem todos sabem silenciar a dor sorrindo…
Nem todos sabem ver a vida do jeito que tu a vias… serenamente… ou de forma caprichosa e arrebatadora com senso de liberdade…
Não Maria nem todos sabem amar incondicionalmente como fizeste…
Nem todos sabem assumir o amor como tu doce… jovem… para amadurecer no tempo…
Maria hoje somos nós que te servimos, com o mesmo gesto com que sorrindo servias os herdeiros da rua… os sem abrigo do porto…
Maria nós estamos aqui … exactamente na hora em que deverias estar servindo à mesa…
Hoje Maria alguém te servirá do outro lado da vida…
Alguém do país da luz, onde não há almas sem abrigo, onde não existem diferenças sociais e onde todos se sentem plenamente filhos de Deus… tu Maria vais ser acarinhada…
Confia Maria… tudo vai ser diferente… amoroso e divino como tu dizias… todos virão ao teu encontro, mostrando o muito trabalho que ainda tens para fazer…
Cantarão para ti todas as músicas de que tanto gostas…
Bordarão para ti estrelas no céu e elas bailaram as rapsódias do tempo…
As flores do campo se abrirão e lançaram o perfume que te inebriará o coração …
E à noite Maria… quando a noite se Abrir sobre a Terra visitarás teus amores deixando no ar a saudade quer o nem tempo tem a possibilidade de destruir…
Como dizias só o amor vencerá. Mas até lá tens ainda muito a fazer… vai ser preciso lutar… levas como guarda de segurança a certeza de que Deus existe e a esperança que Jesus jamais te deixará só se a saudade bater mais forte…
Maria … e nós, no momento certo também estaremos contigo não na festa de despedida, mas nas horas mais difíceis…
Sabes Maria desse lado da vida… verás tudo de um modo muito diferente, mas com a consolação de que sempre virá um anjo em teu socorro…
Maria no coração de Deus ninguém se esgota…
Maria na mão de Deus ninguém se perde…
Maria entre os anjos a serenidade é permanente…
Maria quando chegares junto do Mestre… pergunta- lhe o que deixamos para ti e Ele te dará a mais bela flor…
Quando olhares atentamente na mão do Mestre estará … UMA FLOR PARA MARIA …
Uma flor formada de tantas pétalas, quantos os sorrisos que espalhaste…
De tantas cores quantas as alegrias que criaste…
De tanto perfume quanto o amor quanta a bondade que ofereceste…
Essa flor está orvalhada Maria com a saudade que deixaste…
Tu dizias não quero que chorem por mim…
Não foi possível Maria … embora o esforço doeu… doeu muito…
Fica aqui um pedido… sorri por nós e de vez enquanto vem visitar-nos e deixa-nos a força espiritual que precisamos para podermos continuar nossa missão…
será que as crianças vão continuar assim...???????????
com direito a nascer e terem que mendigar o direito de viver...
é necessário fazer um referendo à consciência e perguntar até que ponto ajudamos as crianças que estão entre nós...
até que ponto deixamos de ser egoistas e dividimos com aqueles que têm muito pouco o que eté temos em excesso e ajudamos as mães que tiveram a coragem de fazer nascer os seus filhos...
ajudemos as crianças a viver... com a mesma força com que nos mobilizamos para as deixarmos nascer...
trazia no olhar a dor de quem ainda queria amar no sossego das almas...
suspirava tirando trovas do coração soletrando lágrimas em forma de amargura ...
olhei para ela e não consegui ficar quieta, o coração dela saltava dentro do peito... ia casar para Junho, tudo estava marcado e apenas num momento tudo estava perdido ... apenas porque outro amor suplantou o seu ... mas havia uma criança, que não era dela ... era demais... ela queria desistir...
tomei-a pela mão e tentei que olhasse as outras mulheres, as mães vergadas pela fome,pela dor de não terem lar , de não terem pão e a dor de não terem ninguém que as amasse tanto que não as deixasse chegar a uma situação de miséria.
envergonhada olhou para o chão e disse :- tem razão eu estou a ser egoísta ... não, disse-lhe eu... está apenas embalando a sua dor, acorde e vamos em frente .
saiu meio envergonhada e eu continuei recebendo pedidos de ajuda para muitos lares sem pão e com uma dor no peito inimaginável ... a dor de ver os filhos chorar.
meus olhos caíram num texto apressado solicitando apoio a mais uma empresa...
a Rádio Renascença liga para mim e como acordada de um sonho, suspensa ainda de todas as dores e borbulhando nas opiniões de quem não sabe o que fazer do referendo que está à porta, apelei para que não apenas se defendesse a vida no ventre mas que todos viessem em defesa de vida aos dois, quinze, vinte , quarenta , oitenta anos...porque afinal a vida começa no ventre mas termina no olhar, quando os nossos olhos insuspeitos lançam o último olhar à vida.
tudo isto por amor... apenas porque em qualquer situação as lágrimas são salgadas imterpretando a dor que já não cabe no peito.