avultados de dívidas á vida que mal aproveitaram...
estão sugados pelo tempo, que sem tempo os empurrou de forma labiríntica e os calca ... e os esquece... e já nem para eles olha como em outros tempos...
o Inverno da vida é severo, rigoroso e implacável...
um dia o meu Tel. tocou...uma voz chorosa, com muita idade chorava aflita, com frases decoradas por tanta insistência em serem repetidas e a voz que chorava sabia a coração dorido de tanto desgosto...
o filho já com idade respeitável, transformara-se no seu carrasco...
os gritos e as agressões constantes, são o pão nosso de cada dia...
mas, não se pode queixar, não pode dizer que a agressão física acontece e sabe de antemão que se o filho souber que se queixa, as agressões serão maiores...
esteve internada para uma operação melindrosa e não deixou o cartão de crédito na mão do filho, já que de vezes anteriores ele simplesmente gastou todas as suas economias...
viver em conjunto com ele, para ela, é um suplico enorme, mas ninguém a pode ajudar...
ela apenas se quer lamentar e fê-lo durante uma hora...
depois se despediu duvidando da existência de Deus, e angustiada, pedia que o filho partisse rapidamente deste mundo, para ela ter sossego...
arrepende-se de escolher a companhia do filho , mas tem que viver com ele...
o álcool a que o filho se entrega diariamente, agrava a sua má disposição para com aquela, ela que lhe deu a vida...
já muito de noite, lá consegui que fosse dormir, e no meio de muita desculpa, desligou para ver se descansava..
quando a vemos a passar percebe-se que carrega uma dolorosa cruz...
cambaleia e chora mal encontra os nossos olhos...
pergunta sempre que mal fez a Deus para ter uma velhice tão difícil...
aconselhei o apoio á vitima, mas ela tem medo...
assim caminham muitos idosos neste mundo, sovados pelos menos velhos e por alguns bem mais novos...
as lágrimas confundem-se com as rugas e sempre que choram pensamos que são as dores próprias dum corpo cansado... mas não... são as dores da alma, bem fortes quando são provocadas por filhos sem coração...
o Inverno da vida ????... quem lhe chamaria assim...
que bom seria que com a experiência acumulada pudéssemos na idade mais avançada, voltar a ser Primavera ou Verão... como o mundo seria diferente...
o Inverno da vida, gelado de amor e quente de preocupação e desgostos, ainda é o que espera a maioria dos mais velhos neste mundo...
por isso eu sempre recomendo, que se esforcem por se manterem activos, física e mentalmente, e parem apenas quando a vida de forma declarada e concreta assim o exigir...
até lá, mantenham a força viva que os trouxe até aqui e vivam, vivam todas as loucuras, todos os amores, sem vergonha e com mais energia...
nós, os que ainda não estamos velhos, semeemos a Paz e não permitamos que ninguém, nem mesmo um filho nos retire essa paz...
um abraço do tamanho do mundo ...
e se você que está a ler esta página tem junto de si alguém mais velho, que simplesmente ignora, corra para ele, abrace-o e fique a contemplar de mente limpa, o Inverno da vida, porque há rosas que ainda florescem no Inverno, mantendo o seu perfume inigualável...
Creio que foi muito rápido… de repente dei comigo a recolher algumas moedas que caíam junto de mim…
Eu apenas me tinha sentado no chão desiludido…estiquei as costas e pensando que eu estava a pedir esmola, deixaram que as moedas tilintassem para eu as apanhar… e durante todo o dia foi assim, até que me habituei e fiz daquele lugar o meu espaço permanente…
Mas o meu olhar jamais se levantou…
A que situação havia chegado um homem que sempre trabalhou…
nunca faltei, nunca fui indolente, nem malcriado para com ninguém…
Fui sempre um trabalhador aprumado e agora dispensado…desempregado …
Caminhei por todos os subsídios…até que me vi sem nada …sem direito a mais nada, fiquei esperando a reforma, que tardará em chegar…
Reparei com o tempo que mais homens como eu viviam estendendo a mão…
eu lamentava mas nunca me imaginei a fazer o mesmo…
E agora ali estava eu.. eu e o meu pedaço de chão, como se ele fosse propriedade minha…
Nunca levantei os olhos do chão…
ao mesmo nível do meu olhar, passavam as pessoas que iam e vinham, denunciando mais ou menos pressa…
Apenas as crianças olhavam para mim e estendiam na minha mão a moeda que os pais lhes entregavam…
Lembrei muitas vezes dos meus irmão pequenos e franzinos…
Naquele pedaço de chão, lembrei a minha mãe com saudade e o cuidado que ela teve sempre comigo por ser o mais franzino de oito irmãos…
A meio do dia , já não precisava de estar ali, ganhava para uma sopita e uma sande de manteiga ou de queijo e assim me deitava, no quarto que já consegui apagar, porque a casa de aluguer já há muito tempo que a tinha deixado…
A minha Teresa não ia gostar de me ver assim, ainda bem que Deus a levou primeiro…
Agora só resto eu, mas inda sou novo… que faço eu neste estado de miséria…
Dizem que é da crise. Então depois de tanto trabalhar, só me resta um pedaço de chão ?...
Mas há uns dias fiquei aflito… sentei-me como de costume e percebi que no mesmo lugar estava uma mulher com duas crianças… as moedas caíam como de costume e eu ia para as apanhar, mas não conseguia…
a mulher guardava as moedas e eu continuei ali na esperança de que ela vagasse o lugar…
Não estava entendendo nada…mas ouvi alguém a perguntar … então o senhor Paulo não está qui…que lhe aconteceu?...
Paulo…Paulo… era comigo, é o meu nome…apeteceu-me gritar…sou eu estou aqui.. mas não consegui que me escutassem porque me esforcei para falar e não saía som da minha voz…que estranho…
Sempre gostei do meu nome Paulo Lima…quando me chamavam para receber, era assim que eu ouvia o meu nome …Paulo Lima…e lá ia eu buscar um envelope de notas que me enchiam os olhos e o bolso…
Voltei a olhar para a mulher que ocupava o meu pedaço de chão…
Mas a mulher apressada, disse:- coitado já morreu vai para um mês… estava com os pulmões afectados…
Dum salto levantei-me e dei por mim mais leve e mais alto que o chão…
Alguém muito perto de mim me segurou… era a Teresa…
Segurou o meu braço e disse: - vem , já não precisas de estar aqui…
Mas este era o meu lugar………. vem , disse ela… este já não é o teu lugar…
Despertei incrédulo, como se estivesse a sonhar… triste, mas ao mesmo tempo feliz…
Ela disse-me:- tu morreste, não te recordas?...
olhei para trás e fiquei com saudade, mas ao mesmo tempo triste e pensativo…
afinal depois de tanto lutar e trabalhar, apenas fiquei com o meu pedaço de chão…
Lasalete …9 h... 6-4-2015
psic.( Paulo Lima)( crónicas do outro lado da vida)
Debaixo de todas as pressões, o Cristo sobe à cruz mais uma vez…
Será para lhe lembrar-mos que ainda precisa de morrer, porque o expurgo de todos os pecados ainda não aconteceu, ou porque o ser humano ainda não tomou verdadeiramente sobre os seus ombros a responsabilidade de suas atitudes?...
Vá-se lá saber porquê, mas a cruz faz parte do mais secreto padecer da humanidade e da mais estranha forma de evolução…
Mas, mesmo que o conhecimento espiritual, esteja a oferecer mil formas de libertação, o jugo religioso, tem que permanecer no quotidiano, com sofrimentos e oferendas a um Deus que no entendimento de muitos, mantém a humanidade com rédea curta…
Os parâmetros crísticos, hoje em dia são de iluminativa ascendência…
Os propositados requiens de outrora, já não servem a ninguém, mas o medo continua a enlutar os raciocínios…
E eu continuo a perguntar:
-que prazer existe em manter o Cristo na cruz ?…
-que prazer existe em manter um amigo dentro de uma imagem tão dolorosa ?
- que Cristo seria este, que nos falou de liberdade e nos manteria presos a tanto sofrimento e dor?...
- que sentido faria então o CRISTO CONSOLADOR?...
Sejamos pois mais racionais e de uma vez por todas, vamos despir o medo dum Deus castigador, dum Deus implacável…
Deus é Amor, Deus é sublimação…
Jesus o médium de Deus, veio em nome do amor, silenciou em nome do amor, sofreu em nome do amor e iluminou-se, iluminando-nos em nome do amor…
Sejamos pois mais doces, mais capazes de fazer-mos o que Ele nos pediu…
Que nos amasse-mos uns aos outros, como Ele nos amou…
Façamos então essa Páscoa dentro de nós…
esse êxodo do homem velho para o homem novo, renovado e fortalecido, pelo abraço do CRISTO ILUMINADO …
sempre que Abril aparece, nos lembramos da revolução…
sempre que precisamos que ouçam a nossa voz, nos lembramos da revolução…
mas, quando tudo está bem para nós, a revolução está dobrada embrulhada a um canto, para voltar a sair em Abril talvez pela data que a lembra de forma cada vez mais desbotada…
porém, Abril representa todos e cada um dos meses do ano…
Abril deve representar cada um de nós e todas as nossas necessidades, cada vez mais esquecidas da maioria e até de nós mesmos…
com o tempo, fomo-nos tornando em seres humanos menos exigentes connosco…
fomo-nos adaptando ao faz de conta, ao deixa correr, ao não vale a pena e tudo desmoronou…
deixamos de renovar as nossas espectativas, deixamos de rejuvenescer a mente…
parecemos gente com muitos anos, com cara do século passado a contar sempre as mesmas histórias, a viver sempre no mesmo sítio e já nem amamos com capacidade de dar mais…
enfim, cada um de nós parece mais do mesmo…
está na hora de nos melhorarmos…
de exigirmos para cada um de nós, outras cores interiores…
cores mais vivas e mais deslumbrantes…
a humanidade está a exigir qualidade, quantidade e rapidez, para que não se transforme num campo de concentração de sonhos, onde deixamos amortalhados a cada dia que passa os nossos ideais…
vamos plantar dentro de nós mais cravos …cravos de todas as cores…
porque as armas já não fazem sentido, já nos podemos entender pelas palavras…
nem tão pouco falemos de Páscoa se não nos libertarmos do cativeiro onde a alma nos coloca...
a quem adianta as promessas, as via-sacras, as procissões dos passos do Cristo?...os vestes de púrpura ... e os arroxeados dos altares...
a quem tentamos enganar, entretanto, a ELE?...
podemos enganar os homens, mas não podemos enganar a Cristo...
a semana santa, só faz sentido se oferecermos o melhor de nós aos outros, se entregarmos aos outros a nossa atenção, para lhes devolvermos a paz ao coração e o brilho ao seu olhar...
a Páscoa só faz sentido, se fugirmos de dentro de nós, desse recinto mofado que está perfurado de recados, que Deus envia e que jamais serão lidos enquanto formos egoístas...
nós somos mais humanos, se deixarmos os mortos enterrarem os mortos, se nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou, se ajudarmos a vida dos outros como lhe fez o Cireneu amoroso,
se enxugarmos as lágrimas de sofrimento do próximo
como fez Verónica...
e se por fim soubermos com amor infinito, descermos os mais sofridos da cruz que a indiferença e a ganância do mundo levantou para os mais frágeis...
aí sim, a Páscoa faz sentido ...
façamos então vias-sacras de flores de amor e carinho, porque de sofrimento já basta ...
embelezemos a vida de solidariedade e paz... foi isso que Jesus pediu...
EXECUTORES DO DESTINO ou facilitadores do karma... sempre que passas por alguém com fome, com frio ou com dor... sempre que alguém cruza a tua vida, em situação de rotura emocional... de cada vez que diante de ti aparecer alguém, precisando de ajuda, tu nem imaginas o que a vida te está a enviar... se não socorres, tu és o responsável pelo prolongamento da dor daquele ser...... apenas porque decidiste que ela se iria prolongar... aquele momento era apenas teu... estás diante de uma prova e não a venceste... por isso pensemos... as dores dos outros podem ser as nossas dores... está na hora de cada um de nós, refletir e começar uma etapa de amadurecimento espiritual... a religiosidade e a espiritualidade são coisas diferentes... as religiões não são responsáveis por ti, mas tu és responsável pela tua espiritualidade... cada um de nós, mesmo que não queira, está implicado na execução das dores dos outros...... ainda há tanto para entender, na construção humana...
creio, que nem todas as pessoas compreenderam o que aconteceu na alma de quem, de forma brutal, se viu de um momento para o outro proibida de viver...
e obrigada a vestir-se às riscas…
não sei se alguma vez, vamos conseguir classificar este acto hediondo...
porque, nem a raça, nem a religião, nem o DNA de alguém, justifica semelhante atrocidade...
resta-me apenas pensar que durante esse tempo, o mundo ficou nas mãos de seres perfeitamente anormais, espíritos perturbados e perturbadores, que tinham com as trevas um pacto infernal...
mesmo como reencarnacionista, me custa a aceitar que fossem exterminados milhões de pessoas e continuadamente, sem que para tanto existisse um grupo de seres sobre a Terra que parassem esse holocausto...
o mesmo pergunto hoje, como é possível, que estejamos a ver morrer milhões de pessoas à fome, num extermínio lento, dolorosíssimo e não façamos nada, camuflando esses horrores com cenas agradáveis, momentos aprazíveis e parangonas jornalísticas que parecem orquestradas exactamente para que não se pense a sério, nos horrores, que hoje em dia de forma mais elaborada, se cometem por aí...
se há 70 anos atrás as notícias custavam a chegar, hoje estamos assistindo à morte em directo e nada fazemos…
medimos o tempo da morte, o som da dor…
hoje traçamos as riscas da vida de forma mais programada, mas disfarçamos…
uns vão rezar, outros viram o rosto…
são muito poucos os que dão as mãos para libertar…
só quando do plano terreno, forem afastados, os ditadores, os bizarros governantes que existem por aí, os déspotas da história, que grava a ferro e fogo os sentimentos humanos, aí sim, talvez de verdade, mudemos a cor das riscas da vida…
a vida a preto e branco, dói muito…
se me perguntassem o que queria neste momento, eu respondo…
TER PERMANECI COM ELES ATÉ AO FIM…
Peço perdão, por não viver nesse tempo…cheguei já no fim da guerra…
Entre ideias e ideais, há uma diferença muito grande…mas as ideias não brotam se não estipularmos nossos ideais…
Sempre me habituei a traçar planos e a questionar os meus ideais, e com o tempo fui criando o hábito de acompanhar atentamente e de forma mais ou menos programada quem convive mais perto de mim…
Assim, vou de tempos a tempos, lançando para o ar a pergunta ( quais são os teus ideais ? ) … mas apercebi-me que quem está afastado da vida voluntária e nada faz pelo mundo que nos rodeia, parece não ter ideais…
Fui percebendo que as pessoas que se dedicam aos outros, sem nada querer em troca, idealizam o futuro de forma mais animada, mais positiva…fazem planos, e se os planos não acontecem como previam, dão a volta por cima com muito mais facilidade…
Entendi então que essas pessoas, amam com mais amplitude, o que de alguma forma as favorece, porque são mais alegres, e essa alegria transborda, seca as lágrimas rapidamente e não entram em depressão com tanta facilidade…
Percebo que amar com amplitude, não permite que caminhemos de olhos postos no chão, mas nos faz mais disponíveis, de tal sorte, que por vezes parecemos estar no meio da guerra, mas o tempo passa tão rápido, que não ouvimos o disparo de quem quer guerrear…
Amar com amplitude, é ser voluntário na vida, independentemente do cenário que se apresenta perante nós…
Tenho vivido momentos de paz inesperados, e tenho percebido que as pessoas que aparecem sem paz, são pessoas que não se movem, mas vivem em círculos, vincadamente pessoais, e por isso mesmo se desgastam e já não sabem como caminhar…
Os seus ideias deixaram de existir vai para muito tempo, e por isso mesmo perderam o hábito de criar ideias novas e conviver para elas é um sacrifício…quase sempre vivem tolhidas de medo e já têm medo de ter medo…vestem-se de uma ansiedade que não tem tamanho… deixaram de acreditar até nos amigos…
Tenho percebido que os seres humanos sem ideais, tem o corpo obedecendo ao calendário, mas fica-me a ideia de que o seu interior envelheceu de forma acelerada e sem pedir licença…
Amar com amplitude, é de facto a forma mais inteligente de vida, porque , se é dando que recebemos, então a máxima está dando mesmo certo, nós estamos mesmo recebendo em troca a energia de que dispomos…
sobre esta ponte , numa noite gelada, eu fiz uma promessa, vai para 50 anos...
"amar a cidade, na pessoa da sua gente, dos mais desprotegidos, dos mais esquecidos..."
anos depois, ainda não consegui concretizar um sonho ( construir o maior refeitório, para que ninguém pudesse pensar que ficaria sem pão)...
a manhã despontou e eu atravessei a ponte rumo á cidade grande, como todos os outros...
quando a miséria atravessava a ponte, todos os homens eram iguais...
a sede de pãp, a fome dum sorriso, encaminhavanos a um encontro marcado ( os pregões do Mercado do Bolhão) ...
a promessa me aompanhou muito tampo e se esbateu com o decorrer dos anos...
voltou quando a vida me percebeu mais só e disponivel do que nunca ... 1996 ...
nunca, nem ninguém , bateu á porta d'O Coração da Cidade, que partisse de mãos vazias...
nunca tal aconteceu...e hoje no Coração da Cidade, já se consegue apoiar em alimentação, 700 pessoas diáriamente, com o maior número de horas possivel ( 10 horas consecutivas) , lá estão a funcionar os voluntários sem descanso, a doar alimentação confeccionada...
no mesmo horário, uma carrinha ou duas, recolhem nos espaços de alimentação e restauração da cidade, os alimentos que não são vendidos... e eles se esgotam nas nossas mesas...
sempre temos para distribuir ( UM COBERTOR, UMA SOPA QUENTE E UM SORRISO PERMANENTE...)
com profunda tristeza, muito embora os apelos constantes que faço, ainda não conseguimos o número de voluntários que necessitamos, porque as nossas actividades, são 3 vezes mais que há dois anos atráz...
o número de pessoas que necessitam de auxílio em todos os sectores, subiu mais de dez vezes e a posição que ocupavam na vida , não era a mesma que ocupam as pessoas sem abrigo...
a pobreza mudou o rosto e temos necessidade de muitos braços, de pessoas muito equilibradas, de muita coragem e acima de tudo muito serenas...
os ánimos estão muito exaltados... quem vem pedir ajuda está muito desmotivada e triste...com os nervos á flor da pele...
nunca em tempo algum o voluntariado fez tanto sentido...
é necessário muito amor ... sem a caridadezinha que costuma emoldurar o sentimento de quem ajuda, mas com uma mentalidade firme e decida...
é necessário amar a cidade e as pessoas que nela se acolhem para conseguir sobreviver...
este poema leva-nos a entender um pouco mais a alma de quem na rua tem o seu estado permanente... obrigado pelo egoismo que ainda veste a humanidade...
se a humanidade me permite querer...
eu.....................
quero ser amado á luz do dia,
sem o frio do chão que á vida faz doer,
quero ter como todos a louca fantasia
duma cama onde possa adormecer...
não quero ser acordado pela noite
pelos olhos mecânicos de alguém,
que me dá de beber e de comer
mas que no fundo chega e parte
e eu fico sem ninguém...
quero ter uma porta onde entrar
um número qualquer só para mim,
para onde Deus por amor manda recados
em cartas perfumadas de jasmim...
quero ser como aqueles que passam pela rua
ligeiros com certezas guardadas em seu peito
quero ser a verdade deles, quase nua,
de que se chegam a mim sem preconceito...
quero fugir do chão sujo e molhado,
que guarda em si os pecados de ninguém...
porque os de toda a gente sem saber
é o meu louco coração que os retém...
quero dizer de frente á madrugada,
que fugi da noite e sonhando adormeci,
numa cama com lençóis e perfumada
tal e qual o berço onde outrora assim dormi...
quero louca e sofregamente possuir
um lugar para amar como um qualquer,
um lençol amarrotado de suor
e a recordação em minha pele de uma mulher...
quero sentir na mão uma cortina amarrotada
daqueles que vêm á janela para olhar
a lua que se esconde envergonhada
quando alguém rouba o direito de sonhar...
por tudo isto...
não me dês um cobertor... dá-me os abraços...
que o mundo não me deu por ser sincero,
não me dês meias para os pés, porque os meus passos
tomam sempre a direcção que eu nunca quero...
eles ?... oh !...já conhecem as ruas como a alma
da cidade que nunca está dormente,
que acorda a cada hora quem sossega
no chão onde passa toda a gente...
não me dês de comer... dá-me a certeza,
de que tudo pode mudar para melhor,
e que todos os filhos da desgraça
vão poder fugir de vez a tanta dor...
demora-te em mim um segundo... amigo... eu sou humano...
não me evites, nem me olhes assim tão de repente...
não sou divino... amigo ... eu sou profano...
mascarou-me a dor ,sou pobre, mas sou gente...
sou o rosto do amor ignorado
que sepultou a caridade em agonia,
eu só quero um lençol amarrotado
eu quero ser amado á luz do dia...
lasalete ... ( poemas do fundo da alma)... 1-12-2009 ... 3 h