minha vida ... minhas vidas ...
Hoje ... hoje gostaria de estar ao alcance da Tua mão ...
Eu tenho certeza que existes e sei que me amas...
mas... ainda que saibas tudo o que faço e o que penso, eu quero falar contigo...
se Tu leres o blog onde escrevo quase tudo o que me vai na alma,
certamente vais entender o meu recado...
Senhor... aprendi a amar-Te vai já para muito tempo,
creio até que está gravado no tempo vai para mais de mil anos...
tenho existido várias vezes, reencarnando vida após vida
para encontrar , no meu entender claro...
alguma diferença entre os homens...
e para aprender com eles também ...
Nesta vida... eu vinha com a esperança
de que tudo estivesse um pouco melhor...
Quando me permites voltar atrás no tempo
e me envolvo com os hábitos de há cem anos atrás ,
percebo-me na beira do rio que eu tanto amo...
e apesar de encontrar o rio tranquilo e manso,
sinto o cheiro fétido da Ribeira desses tempos,
o burburinho dos homens que carregam fardos pesados,
que chegam dos barcos acolhidos nas rochas que lhes serviam de cais...
grossas cordas amarram fardos enormes de palha amarrada manualmente,
que elevam a custo para os carros que sobem rua acima,
trespassando uma ladeira íngreme a que agora se chamam, a Rua dos Mercadores...
As meretrizes estão à porta de quase todas as tascas
e se oferecem sem decoro, mas ninguém as trava...
os homens dos barcos brincam ao amor e logo se despedem
para voltarem daí a um mês... mas...
a pobreza naquele tempo ainda é mais triste do que a pobreza de agora...
vejo-me com grande caldeirão de sopa , parca de tudo,
a mitigar a fome e o frio de quem perto da porta 27 da beira do rio...
preta e velha... com fechadura enferrujada, essa porta,
deixa passar através de si a dor da gente mais pobre da cidade...
os estropiados são muitos e as crianças estão todo o dia por ali,
pedindo e roubando tudo o que encontram...
a ribeiro sossega pelas seis da tarde quando os pobres sobem a S. Nicolau
para esmolar junto à igreja e sobem lestes até à alfandega
onde quase todas as terças feiras existem grande aglomerado de gente
que no comércio encontram os seus valores vitais...
os pobres naquele tempo não são amados,
mas fala-se de caridade e de amor ao próximo,
mas com conta peso e medida...
os pobres estão tão rotos, que parecem cobertos de trapos...
pergunto apenas porque vim novamente para o mesmo sítio,
entregar aos que me pedem apoio novamente,
a sopa que lhes faz falte... e muito embora as assinaláveis diferenças da época
tudo parece estar na mesma em questões de amor...
desta vez vim para mais longe do rio...
na parte alta da cidade estou tão longe do barulho...
junto de mim estão alguns que naquele tempo me davam apoio
e já não precisamos de andar pelas ruas a pedir o que não podemos comprar,
porque tudo chega mais cedo e todos se alimentam em a paz e harmonia...
mas eu continuo a perguntar onde pára o amor ?...
onde estás Tu que não vejo a seres retratado com mais vivacidade
e Te vinculam apenas às igrejas, sem que pareça que tens que
estar mais presente nas atitudes mentais e espirituais
para que possamos levar aos que mais precisam o amor
para que assim a Terra possa evoluir e todos nós
possamos com ela caminhar felizes...
mudou-se apenas a Ribeira, os pobres continuam pela cidade ...
a Fé veio em nosso auxílio, mais esclarecedora e racional ,,,,
mas afinal o que mudou efectivamente ... ?
recuar no tempo é fantástico, porque me permite avaliar o progresso em termos materiais, mas dói perceber que não evoluímos interiormente na mesma escala...
ontem voltei à Ribeira em sonhos e gostei de me envolver nas mesmas questões...
fiquei atónita pelas revelações e pelas certezas que trouxe comigo...
a mesma cidade os mesmos protagonistas,
as mesmas disputas e quase que os mesmos erros...
vi-me de repente parada junto ao cais do carvão velho ...
vi que alguém me erguia e as mulheres choravam junto de mim...
percebi que nessa vida morri junto ao rio ...
de manhã tive vontade de visitar o local... mas não consegui...
penso hoje à tarde voltar ao mesmo sítio onde o sonho me levou ...
não sei se vou chorar ...
sei que no mesmo local estará uma criança brincando e um velho ao lado ...
logo mais vou procurar ... vem comigo Senhor ... visitar a Ribeira do Porto...
amo a minha cidade ... amo a minha vida ...
amo-te muito Senhor pela nova oportunidade que me deste
e por teres permitido que comigo voltassem os que me amparavam ...
voltei com muitos amigos ...
homens e mulheres daquele tempo
que hoje estão novamente realizando um projecto mais amplo...
Lasalete